sexta-feira, julho 29, 2011

A tecnologia como agente transformador do método de ensino-aprendizagem

A transmissão do conhecimento baseia-se em diversos tipos de ferramentas, onde podemos citar como fundamentais as de observação, comunicação e experimentação.

Historicamente, os mecanismos de transmissão do conhecimento associados ao método de ensino-aprendizagem evoluíram em equivalente proporção ao progresso tecnológico. Ou seja, enquanto os instrumentos propagadores do conhecimento fundamentavam-se quase que exclusivamente através da interação direta e pessoal de um "mestre" e seus "aprendizes". A capacidade de absorção da informação estruturava-se em características que apontavam a aplicação, disciplina, interesse, comprometimento e nível intelectual do "aprendiz". Neste caso, o "mestre" refletia uma autoridade superior, quase que dogmática, transferindo o conhecimento sem a preocupação subjetiva de seus "aprendizes".

Em paralelo, o sistema educacional evoluiu com a mesma proposta (salvo algumas ressalvas), em que aos alunos propunha-se um sistema de aprendizagem rigoroso e inquestionável, em virtude da disseminação doutrinária de raros e virtuosos cientistas, filósofos e gênios da humanidade, que fundamentaram os alicerces da ciência, aos quais eram transmitidos em sala de aula para os (então) professores, cujo compromisso tinha um caráter mais voltado à replicação de suas teorias. O que quero dizer é que a interatividade era formatada de modo hierárquico e vertical, com a participação do professor no topo de uma pirâmide e os alunos em sua base, pela transferência cultural com recursos limitados e sem feedback dos alunos (que apenas questionavam no intuito de absorver melhor a explicação e não o questionamento)

Não estou, nestas palavras, questionando a profundidade de conhecimento ou cultural deste perfil de professor, mas apenas estou trazendo à realidade um sistema estruturado do passado que se transformou a partir da década de 90 (século XX).

A partir do advento tecnológico dos computadores de mesa (personal computers) integrados com a capacidade de interagir através de uma rede mundial de computadores (web), a educação sofreu uma transformação exponencial que determinou na adaptação e reformulação do processo pedagógico e de interação aluno-professor. A informação passou a estar disponível em tempo real a cada usuário de um equipamento que estivesse apto a transmiti-la.

Com isto, o papel da educação horizontalizou-se. Concomitantemente, o papel do professor rapidamente compreendeu uma função mais instrutiva, alterando um perfil unidirecional para um multidirecional, com retroalimentação e incorporação da aprendizagem das experiências transmitidas pelos próprios alunos. Tal circunstância inspirou novas possibilidades no sistema pedagógico, permitindo ao então "professor" submeter o seu conhecimento não somente pela "transferência", mas pela "troca". Assim, estudos de caso, experiência profissional, mecanismos de acesso, entre outros fatores, trouxeram para a sala de aula uma nova maneira de capacitar-se para a pesquisa científica e compreensão do mercado de trabalho.

Atualmente, o ensino à distância (EAD) é uma nova frente que redimensiona este sistema de ensino-aprendizagem, pelo fato de descartar parcialmente ou totalmente a interatividade com um instrutor de forma direta. Tal sistema envolve o uso de redes sociais e sistemas da informação que, associados a um professor-tutor (não presencial), permite aos alunos a busca pelo conhecimento de forma quase que autônoma, uma vez que deve-se observar todo o procedimento adotado pelos planos de ensino de cada disciplina estruturados em um sistema próprio, devidamente alimentado com metodologias cadenciadas e alimentadas por bancos de dados e materiais científicos e de suporte à aprendizagem.

O fato é que nos últimos 30 anos constatamos uma transformação impressionante dos cenários tecnológicos integrados aos sistemas educacionais. Muitas pessoas, principalmente as de gerações mais antigas ou as que não possuem alfabetização tecnológica, não compreendem como o ensino à distância comporta qualidade se não existe a figura de um professor presencial. Mas é possível, claro que é. Porém, não basta que haja organização, método e qualidade pela instituição proponente destes cursos. É indiscutível que haja aplicação, disciplina, interesse, comprometimento e nível intelectual do "aprendiz", adicionando-se ainda o acesso à tecnologia e a gestão qualificada do tempo.

Em uma projeção de cenários, ainda não consigo identificar se nos próximos 30 anos ocorrerá a extinção do professor presencial. Imagino que não. Até porque, o ser humano é um ser social e precisa de contato direto. Porém, o processo pedagógico e de ensino-aprendizagem continuará evoluindo para novas possibilidades e interatividades. Novas alterantivas serão criadas, inclusive para cursos historicamente tradicionais (medicina, direito, etc), onde a tecnologia determinará novos procedimentos e experimentações capazes de conduzir o processo de ensino de forma mais dinâmica, com maior capacidade de informação e interação tanto com laboratórios e instrumentos de pesquisa científica quanto com o próprio mercado de trabalho.

Para tanto, devemos estar preparados para estes novos avanços e adaptados para compreensão dos cenários que virão. A seleção natural é um processo já previsto por Charles no século XIX mantendo-se implacável no processo de seleção de competências não somente na vida natural, mas no mercado de trabalho e sistemas educacionais. Portanto, estarmos alheios à integração tecnológica nos mecanismos pedagógicos pode ser considerado como um estanque evolutivo. Por fim, temos o dever de acompanhar o fluxo progressivo destes avanços para que não nos tornemos os "analfabetos tecnológicos" do futuro.

4 comentários:

  1. Bom,

    Acredito que posso falar sobre EAD com uma certa autoridade (de ex-aluno).
    A qualidade que os cursos de uma faculdade, se equivalem, sendo EAD ou não pois a maioria dos professores que atendem ao EAD são os mesmos que atendem ao presencial. Da mesma forma os conteúdos são os mesmos.
    O que muda então?
    Na minha experiência o que percebi de mudança foi a atitude dos alunos, não só em relação a sua vontade de aprender mas na disposição de ir além do conteúdo proposto. Não por obrigação e sim por vontade de aprender mais e mais. Os fóruns acabam sendo os motivadores onde o debate extrapola qualquer planejamento de conteúdo.
    Ainda enquanto cursava a faculdade fizemos uma prova envolvendo duas instituições aqui de São Paulo, tanto no EAD como no presencial e o resultado foi surpreendentemente a favor do EAD.
    Vale lembrar que a maior e melhor faculdade de economia do mundo atende somente a esta modalidade de ensino.
    É, realmente, um caminho sem volta.
    Espero ter ajudado com este depoimento.
    Abs,

    Alberto

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  2. Roger primeiramente quero lhe parabenizar pelo artigo. Excelente!
    Também não consigo enxergar a extinção do professor num cenário projetado como você mencionou, mas li uma matéria recentemente que me causou uma certa inquietação: nos Estados Unidos a escrita já se tornou optativa.
    Se a escrita se torna optativa, na minha opinião, perde-se a "identidade".
    Acredito que a interação entre professor e aluno, apoiados nas ferramentas tecnológicas, realmente opotunizam um horizonte criativo sem limites, mas algumas coisas chamadas de tradicionais, como a escrita, não deveriam ser simplesmente substituidas de forma tão simplória.

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  3. Excelente depoimento do Alberto. O Ensino EAD pode ser muito superior ao ensino tradicional, isso vai depender muito do perfil do aluno, pois ele precisa também dedicar um pouco do seu tempo ao auto estudo. Estar todos os dias em uma sala de aula não garante aprendizado se você só estiver de corpo presente e não ir além do proposto pelo professor, por isso as duas categorias se igualam

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  4. Professor este artigo é de vem de encontro ao que está ocorrendo em pleno século XX, a difusão acelerada do internet ferramenta está que vem de encontro a metodologia do Ead.
    Interessante tal artigo e este reforça ainda mais a credibilidade do Ensino a distância.
    Att.Gustavo Tomasi

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